Por que a ansiedade afeta mais as mulheres? Entenda as causas biológicas e sociais
Ansiedade afeta o dobro de mulheres em relação aos homens. Descubra as causas e saiba como cuidar da saúde mental
A ansiedade é uma emoção natural, um tipo de alarme interno que prepara o corpo para desafios. Porém, quando desregulada e persistente, ela se transforma em um transtorno, que se manifesta desproporcionalmente entre os gêneros. Sim, a ansiedade atinge muito mais as mulheres do que os homens.
Estudos da OMS e do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) mostram que os transtornos de ansiedade são duas vezes mais frequentes em mulheres. Isso inclui quadros como ansiedade generalizada, pânico e fobia social.
Mas por que isso acontece? A resposta envolve fatores biológicos, psicológicos e, de forma contundente, sociais e culturais. Reconhecer e compreender esses fatores é o primeiro passo para desmistificar essa “epidemia silenciosa” e promover a mudança.
Principais causas da ansiedade em mulheres
A ansiedade nas mulheres é um fenômeno complexo, que não pode ser atribuído a uma única causa. Vamos explorar 5 dos principais elementos que contribuem para essa realidade.
Junto com as explicações, trago relatos de pacientes de diferentes idades que exemplificam bem cada um deles.
1. Fatores Biológicos
A ciência tem investigado o papel dos hormônios sexuais femininos e da predisposição genética na maior vulnerabilidade à ansiedade.
As flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual, na gravidez, no pós-parto e na menopausa são momentos de grandes mudanças no corpo feminino, e estudos indicam que essas variações podem impactar diretamente o humor e a regulação emocional.
Por exemplo, pesquisas mostram que o estrogênio e a progesterona, hormônios predominantes no corpo feminino, podem modular a atividade de neurotransmissores como a serotonina e o GABA, que estão diretamente envolvidos na regulação do humor e da ansiedade.
Desequilíbrios nesses sistemas neurobiológicos, exacerbados pelas flutuações hormonais, podem contribuir para uma maior sensibilidade à ansiedade.
Além disso, embora menos conclusivo, alguns estudos sugerem que há uma predisposição genética que pode tornar as mulheres mais suscetíveis a ter um “alarme” interno mais sensível.
Relato:
“Eu sempre fui uma pessoa calma, mas quando engravidei do meu segundo filho, parecia que a ansiedade vinha em ondas. No terceiro trimestre, eu não conseguia dormir, meu coração disparava e eu ficava preocupada com tudo. Os médicos disseram que era normal pelas mudanças hormonais, mas foi bem assustador.” – Ana, 34 anos.
2. Dupla Jornada
Além dos fatores biológicos, o peso das expectativas sociais e das responsabilidades cotidianas é um contribuinte significativo para a ansiedade feminina.
A dupla jornada de trabalho é uma realidade para a maioria das mulheres, que frequentemente precisam equilibrar múltiplos papéis: mãe, esposa, profissional, dona de casa, cuidadora de pais, entre outros.
Essa sobrecarga de responsabilidades, muitas vezes invisível e pouco valorizada, gera um estresse crônico.
Estudos sociológicos e psicológicos apontam para a “carga mental” que recai desproporcionalmente sobre as mulheres, que tendem a ser as principais planejadoras e organizadoras do ambiente familiar e social, além de suas carreiras profissionais.
Essa tentativa constante de “dar conta de tudo”, sem tempo adequado para descanso ou autocuidado, é uma receita para a exaustão física e emocional, alimentando um ciclo de ansiedade e esgotamento.
Relato:
“Eu saio do trabalho, pego as crianças na escola, chego em casa, preparo o jantar, ajudo na lição, arrumo a cozinha… Quando finalmente sento, parece que minha cabeça não para. Penso em tudo o que não fiz, no que tenho que fazer amanhã. É uma lista interminável e sinto que nunca sou boa o suficiente, o que me deixa exausta e ansiosa.” – Juliana, 41 anos.
3. Body Shaming e padrões de beleza irreais
A pressão para corresponder a padrões de beleza inatingíveis é outro fator que pesa sobre a saúde mental das mulheres.
Desde cedo, somos bombardeadas com imagens de corpos “perfeitos” em mídias tradicionais e, atualmente, de forma ainda mais intensa nas redes sociais.
A comparação constante e o “body shaming” – a crítica e a humilhação do corpo alheio ou do próprio – geram insegurança, baixa autoestima e uma profunda ansiedade em relação à aparência. Estudos como esse já comprovaram isso.
Pesquisas sobre o impacto das redes sociais na saúde mental feminina indicam uma correlação entre o tempo gasto em plataformas visuais e o aumento da insatisfação corporal, sintomas de ansiedade e depressão.
A busca incessante por validação externa, baseada em um ideal estético muitas vezes irrealista, transforma o corpo feminino em um campo de batalha, contribuindo para transtornos de imagem corporal e ansiedade social.
Relato:
“Eu vivo vendo fotos de modelos e influencers nas redes sociais, com corpos ‘perfeitos’. Mesmo sabendo que tem filtro e edição, não consigo parar de me comparar. Fico ansiosa antes de sair, pensando se minha roupa me valoriza, se as pessoas vão me julgar. Já deixei de ir a encontros por causa disso.” – Carol, 22 anos.
5. Mito da Mulher Perfeita
Por fim, não podemos negligenciar os papéis sociais internalizados que as mulheres são, muitas vezes, compelidas a desempenhar.
A ideia de que elas precisam ser “boazinhas”, altruístas, fortes e, acima de tudo, perfeitas em todas as esferas da vida pode ser esmagadora.
A chamada “Síndrome de Cinderela” – um termo popularizado na Psicologia – descreve essa necessidade de agradar a todos, de ser sempre prestativa e de sacrificar suas próprias necessidades em prol dos outros, esperando por uma recompensa ou reconhecimento.
Essa pressão invisível para a perfeição, a dificuldade em dizer “não” e a internalização de que o valor da mulher reside em sua capacidade de servir e de se doar exaustivamente podem levar a um sofrimento psíquico silencioso, resultando em exaustão emocional, burnout e, claro, ansiedade crônica.
Relato:
“Sempre me ensinaram que uma boa mulher cuida de tudo e de todos. Eu sempre fui a que organizava as festas, resolvia os problemas da família, apoiava os amigos. Quando precisei de ajuda, me senti um peso. Fico ansiosa só de pensar em pedir algo ou em decepcionar alguém. Acabei explodindo, e só aí percebi o quanto isso me fazia mal.” – Lúcia, 50 anos.
Desafiando a Epidemia Silenciosa
Como vimos, a maior prevalência de ansiedade nas mulheres não é um acaso. É um problema complexo, influenciado por uma interação entre biologia, psicologia e, crucialmente, as pressões sociais e culturais que moldam a vida feminina.
O que podemos fazer para reduzir a ansiedade nas mulheres? A responsabilidade é coletiva e envolve:
- Questionar ativamente os padrões de beleza irreais
- Promover uma divisão de tarefas e responsabilidades mais equitativa no lar e na sociedade
- Apoiar as mulheres em suas escolhas e em seu direito de priorizar sua saúde mental
Para as mulheres, a mensagem é clara: vocês não precisam ser perfeitas para serem amadas e valorizadas. Portanto:
- Cuidem de si
- Priorizem sua saúde mental
- Não hesitem em buscar ajuda profissional quando necessário.
Ser forte também é saber pedir apoio. A mudança começa com o reconhecimento, o diálogo e a ação de cada um de nós, construindo um ambiente onde a ansiedade seja compreendida, e não apenas suportada, especialmente pelas mulheres.
Tratamentos e Terapias para ansiedade em mulheres
- Fale sobre seus sentimentos com amigos, familiares ou profissionais. Conversar com alguém de confiança pode permitir que você se sinta ouvido e validado, o que reduz o estresse.
- Pratique exercícios físicos, mantenha uma alimentação saudável e durma bem. A saúde física está intimamente conectada à saúde mental. O corpo e a mente se influenciam mutuamente, e práticas saudáveis podem ter um impacto direto na redução da ansiedade.
- Relaxe! Experimente meditação, yoga, respiração profunda ou mindfulness. Relaxar é um componente essencial no controle da ansiedade. Técnicas como meditação e mindfulness podem ajudar a reduzir os níveis de estresse ao focar a mente no presente, interrompendo o ciclo de pensamentos ansiosos.
- Busque ajuda. Se a ansiedade estiver atrapalhando sua vida, procure um psicólogo ou psiquiatra. É fundamental reconhecer que, em alguns casos, a ansiedade pode se tornar debilitante e exigir ajuda profissional. A Psicoterapia oferece um espaço seguro para explorar as causas da ansiedade e aprender estratégias para lidar com ela de maneira eficaz.
- Superando o estigma – procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica não significa fraqueza. Ao contrário, é um ato de coragem e autocuidado. A saúde mental merece a mesma atenção que a saúde física, e buscar ajuda é o primeiro passo para um caminho de cura e bem-estar.
Conclusão
A maior incidência de ansiedade em mulheres não é coincidência. Ela é resultado da soma de biologia, papéis sociais e pressões culturais.
Para mudar esse cenário, é preciso:
- questionar padrões de beleza irreais;
- dividir responsabilidades no lar e na sociedade;
- incentivar que mulheres cuidem de si e busquem apoio sem culpa.
👉 Mensagem final: ninguém precisa ser perfeita para ser amada. Priorizar a saúde mental é fundamental para viver com mais leveza e bem-estar.
Psicóloga clínica e pós-graduanda em psicopatologia. Oferece consultas de psicoterapia online no Personare.
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