Como lidar com a traição e recuperar a confiança no relacionamento
Como lidar com a traição? Perdoar ou não? Aqui, vamos fazer reflexões para construir o melhor caminho - juntos ou não
Por Zoe de Camaris
Traição. Mais forte que o seu significado, só o efeito que tem sobre a gente. Não há tristeza que sobrepuje a raiva, o desapontamento, a frustração, a amargura. E ainda traz consigo o ciúme, a culpa, a insegurança. Como lidar com a traição?
Passar por uma traição é mais do que ser vítima ou cometer uma infidelidade. É viver a quebra de um acordo de confiança. E isso, em qualquer tipo de relacionamento, é doloroso e desgastante.
Então, como lidar com a traição? Perdoar ou não? Seguir na relação ou terminar? Como reconstruir a confiança se escolher ficar? Aqui, vamos fazer reflexões que ajudam a construir o melhor caminho — juntos ou não.
O que é traição?
O que é traição depende do combinado. Algumas pessoas são muito radicais quanto à infidelidade e, para elas, qualquer deslize é traição. Mas tudo depende do trato.
O quê?
- Você não fez um trato com a pessoa amada?
- Foi deixando a história acontecer sem conversar sobre exclusividade, desejos e limites?
Hora de parar para pensar.
A infidelidade pode ser contornada se foi prevista em um ajuste entre os pares. Em tempos de não-monogamia, o difícil é saber como jogar. Ou pode não fazer parte de acordo nenhum: “Aconteceu”. E a gente sabe que pode acontecer. Principalmente quando é com a gente, né?
3 motivos da traição em um relacionamento
Como lidar com a traição e recuperar a confiança
Nem sempre a traição precisa significar o rompimento da relação. Mas para reconstruir algo, é preciso um terreno minimamente estável. Vamos às bases.
1. Defina seus limites
Antes de tudo, comece por você. Fidelidade a si mesma é o primeiro passo. Estabeleça os seus limites de forma bem clara. Grave, anote, mande um áudio para uma amiga.
- Até onde você pode ir?
- O que seria insuportável?
Eu sei, cada caso é um caso, cada pessoa nos instiga de formas diferentes e tudo é sempre um aprendizado. No entanto, esse não é um motivo suficiente para você se quebrar.
2. Foque no autoconhecimento
Se você não conseguiu marcar limites, hora de apostar em autoconhecimento para não quebrar a cara no próximo relacionamento.
Lembra das aulas de Física? O limite de elasticidade é a tensão máxima que um material aguenta sem se deformar. Se a tensão é superior ao limite, ele se deforma para sempre. Nunca mais volta a ser o que era. Esse é o ponto de fratura.
3. Menos competição, mais diálogo
Para saber como lidar com a tração, é preciso identificar se existe uma disputa acontecendo. Não aceite se relacionar assim, num jogo de “quem pode mais”.
E o mais importante: conversem. Intimidade é interioridade compartilhada. Confiança exige comunicação.
4. Defina os acordos da relação
O que está acertado entre os pares é garantia de paz, por isso a importância de estabelecer acordos. Um diálogo honesto sobre desejos e expectativas pode possibilitar uma relação afetiva duradoura e satisfatória.
Sonhar com traição: o que significa?
A seguir, vamos ver algumas formas de parceria. A ideia não é colocar relações em caixinhas, apenas facilitar o entendimento e sempre lembrando que a vida é feita de nuances.
Os combinados do amor: 3 tipos de relação amorosa
A seguir, três formas de parceria amorosa que podem ajudar a entender como você se vincula. Perceba que a palavra amante aparece em todos os três tipos, porque partimos do princípio que em uma relação amorosa existam trocas sexuais.
1. O amante-amante
- É aquela pessoa com quem você vive uma relação física intensa. Sexo e paixão.
- A história pode durar anos, mas precisa de acertos para não explodir.
- Ciúme, controle e desejo de exclusividade são bastante comuns.
- Fora da cama, os combinados exigem limites muito claros.
2. Amante-companheiro
- Aqui existe parceria para projetos, viagens, hobbies, momentos em grupo.
- A relação se sustenta na partilha do cotidiano e dos gostos.
- As regras costumam girar em torno da convivência e organização da vida prática.
- Quando os combinados são rompidos, ferem o princípio de solidariedade.
3. Amante-amigo
- Troca de confidências, escuta, cumplicidade e respeito ao tempo de fala.
- Conversar sobre o relacionamento não é problema.
- Aqui, dificilmente os combinados serão quebrados. Mas se acontecer, a dor é imensa.
Qual é o melhor tipo de relacionamento?
O melhor de tudo é encontrar essas características todas em um só ser humano, mas sabemos que a vida nem sempre é tão boa assim…
Com o amante-amante, você viverá momentos tórridos, com o amante-companheiro, experiências inesquecíveis e com o amante-amigo, existirá a chance de um diálogo efetivo e sincero, parceria e amizade.
Resumo da ópera: Embora em tese os combinados possam funcionar com todos os tipos, com o amante-amigo suas chances de um relacionamento baseado na honestidade aumentam exponencialmente.
O importante é começar do jeito certo
A grande questão que envolve os acertos nos relacionamentos – e que poderiam evitar problemas futuros – é que eles não acontecem nos primeiros tempos da relação. No começo queremos aparentar isso ou aquilo, criar esse ou aquele efeito aos olhos do outro.
Para impressionar, fazemos concessões. Topamos coisas que não são da nossa esfera. Frequentamos lugares que não gostamos, lemos livros que não nos interessam.
E aí, passado o tempo do maravilhamento, na hora de apresentar o manual de instruções… já era. Regras foram estipuladas sem nenhuma conversa.
O tutorial que traz todos os itens de “Como se dar bem comigo na casa dos seus pais” ou “Como conversar com o ex sem causar ciúme”, ou ainda: “Como se dá a lavagem da louça, dos primórdios da gordura à organização nos armários e gavetas” não irá mais funcionar, os hábitos já estão estabelecidos.
Os limites da sinceridade
É sempre sábio ser sincero? A verdade machuca, mas a ferida cicatriza. E mesmo que a fala tenha sido dura e a situação, difícil, você admira a pessoa por ter agido de forma honesta.
Já a mentira, corroí como ferrugem. Quando você vê, não resta mais nada do que foi bonito um dia.
Mas antes do outro, vem a gente, e voltamos à primeira regra:
Você é honesto consigo?
Reflexão nunca é demais. Assumir seus desejos de sexo, companheirismo e amizade, falar sobre expectativas e falta de expectativas é ponto de partida para uma história de amor saudável.
E cuidado com a hipocrisia: “eu posso, mas o outro não pode”. Bem comum isso, né?
Lembre-se também que muitas vezes quando alguém não cumpre um ritual, seja um bom dia às oito da manhã ou um telefonema no meio da tarde, provavelmente isso não significa que a pessoa não te ama.
Ela simplesmente está lá cuidando da vida dela. Não tem a ver com você, entende? Tem a ver com ela. Cuide da sua vida, não sufoque. Isso nunca dá certo.
O ser amado, a pessoa com quem você se relaciona, tem um universo particular do qual você não faz parte. Ele tem direito à intimidade e à privacidade, incluindo o direito à transgressão.
O que precisa ficar acertado são os limites de cada um. E quando esse limite é ultrapassado, a comunicação precisa ser imediata e serve tanto para um como para o outro: respire fundo, crie coragem e informe!
Relações afetivas são sociedades
Se existe uma sinergia natural entre vocês, uma parceria consistente e boa comunicação, temos um relacionamento que pode dar certo. Dá pra fazer planos.
Sem isso, a longo prazo, por mais que a gente esteja gostando da pessoa, um dos dois inevitavelmente sairá perdendo. Relações afetivas, apesar da paixão, são sociedades.
E para que funcionem como sociedade, é preciso seguir certos princípios. “Mas é duro assim? Regras até no amor?” Não, o amor não segue regras. Mas as sociedades onde vivemos, sim.
Às vezes, é só sexo e não há lealdade possível a não ser aquela que ocorre no presente, no momento em que o encontro acontece. Casos fortuitos não tem futuro, até segunda ordem.
Mas aí acontece um novo contato com essa mesma pessoa e começamos a insistir no movimento, mesmo que existam sinais de que não vale a pena continuar.
Por que topamos ficar com pessoas que não nos fazem bem, que não tem nada a ver com a gente? Elas podem ser boas pessoas, mas na interação há colisões que podem se tornar intransponíveis.
Ela será uma boa pessoa para outra pessoa e é vida que segue. Histórias passionais são bonitas no cinema. Na vida real não tem graça nenhuma.
É preciso encontrar equilíbrio em meio ao fascínio.
A carência como desculpa
No mundo de hoje, com essa vida louca, somos todos carentes de alguma forma. Carentes de carinho, de tempo, de atenção… em algum lugar dentro da gente, privações emocionais vão acontecer.
Rodeie-se de bons amigos, traga as pessoas que lhe são queridas da família mais para perto e, principalmente, tire a pessoa do foco e olhe para você.
A longo prazo, uma relação baseada em carências pode ser o estopim para uma história de abuso. Cortar o mal pela raiz é sempre uma boa ideia.
Traga o medo de ser traído para a conversa!
Então, como evitar a traição? Conversando honestamente sobre seus desejos, colocando na mesa aquilo que dói e aquilo que agrada. Entendendo que o outro é o outro, com uma criação diferente, com expectativas diversas, com uma mecânica interna que não é nossa.
À medida que o relacionamento amadurece, a cumplicidade acrescenta detalhes e suprime excessos do acordo, do pacto, do combinado. A traição deixa de ser uma ameaça, um fantasma que ronda a relação.
Às vezes, a traição apenas escancara o que já estava frágil. Encontrar o equilíbrio em meio ao fascínio é um desafio, mas também um convite a se conhecer melhor, rever limites e, principalmente, cuidar da relação mais importante: a que você tem com você mesma.
Há 38 anos fortalecendo a arte do Tarot, Zoe é escritora, formada em Letras e com especialização em História Social da Linguagem. Presta consultoria de mitologia e análise simbólica em obras de ficção literária e cinematográfica. Consultas online podem ser agendadas no Personare.
Saiba mais sobre mim- Contato: zoedecamaris@gmail.com
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