Como não se perder em um relacionamento
Aprenda como não se perder em um relacionamento identificando os sinais de apagamento emocional e reconectando-se com sua essência
Por Araiê Berger
Outro dia, alguém me disse com a voz embargada: “Eu não sei quem sou quando estou com ele.” A frase me pegou. A gente passa a vida construindo uma identidade, aprendendo a medir os próprios passos, equilibrando vontades e limites… Até que, de repente, tem medo de se perder em um relacionamento.
E é aí que algo começa a mudar. O outro chega na nossa vida como um espelho. E o reflexo devolvido é turvo. Encantamento? Dependência? Rejeição?
Do love bombing ao silêncio
No começo, tudo brilha. A presença do outro aquece como o sol do meio-dia. Elogios, promessas, intensidade. É o feitiço do amor lançado sem aviso.
A Psicologia chama isso de love bombing, que pode ser traduzido como “bombardeio de amor”, ou seja, quando damos atenção e carinho de forma avassaladora.
Na prática, parece apenas um voo alto, um delírio doce. E quem sobe sem freio, uma hora despenca.
Mas a queda sempre vem.
O olhar antes cheio de luz se torna distante. O toque esfria. As palavras rareiam. E então o silêncio cresce como um muro invisível.
Como nos perdemos no meio do caminho
Quando o silêncio chega, você se pergunta o que fez de errado. Procura brechas, tenta reanimar o que já se esvaiu. Mas talvez a pergunta não seja “o que eu fiz?”, e sim: por que aceito esse jogo?
A resposta é porque, muitas vezes, não somos nós que escolhemos – são nossos complexos.
Em um lado da dança, está quem sente que precisa merecer amor — que se curva, que aceita migalhas, que acredita que, se tentar mais um pouco, será finalmente escolhido.
No outro, quem veste a couraça da indiferença, que se alimenta da busca alheia, que dá e retira o afeto como um prêmio.
Mas tudo isso é uma ilusão. A pergunta não é o que sinto pelo outro, mas como o outro faz me faz sentir.
O que parece amor pode ser apenas um jogo de sombras. Jung nos ensinou que dentro de cada um de nós habita um casamento secreto: o feminino e o masculino, o receptivo e o ativo, a entrega e a firmeza.
Mas quando esse equilíbrio interno se rompe, buscamos no outro o que falta em nós. Atraímos o reflexo da nossa própria carência.
Como não se perder em um relacionamento
A resposta não está no outro. Mas, sim, no silêncio entre uma pergunta e outra.
- Quando foi que você começou a duvidar de si?
- Quando se pegou esperando que o outro dissesse quem você é?
- Quando foi que seu centro se deslocou para longe de você?
A escolha precisa ser feita. E, uma vez feita, precisa ser protegida.
Mas atenção: proteger-se não é se fechar, não é erguer muros. É ocupar seu espaço no mundo sem precisar encolher ou expandir para caber no abraço alheio.
Então onde está seu centro quando o outro não está?
No fim, amar não é se perder nem se dissolver. É permanecer inteiro.
Mestre em Ensino nas Ciências da Saúde e especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar, com mais de 14 anos de experiência em psicoterapia clínica e supervisão de psicólogo, presencial e online. Dedica-se a temas como sonhos, simbologias e a compreensão profunda da psique humana por meio da psicologia analítica.
Saiba mais sobre mim- Contato: araieberger@gmail.com