O poder do colo nas relações entre mães e filhos
Mãe e filha terapeutas explicam como o colo faz bem para as relações e as emoções - e ainda é terapêutico!
Por Luisa Restelli
Nascemos do colo de nossa mãe. Esse útero materno que nos acolhe, alimenta e propicia o espaço para nos formarmos como seres humanos.
Mas o colo não para (ou não deveria) no início da nossa vida, muito menos se limita ao colo que a mãe oferece.
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O poder do colo
Depois do nascimento, o colo continua sendo um lugar de:
- Descanso emocional
- Nutrição afetiva
- Segurança e pertencimento
O “colo” entre mãe e filho não é apenas um gesto físico. É um símbolo profundo de segurança emocional, de presença amorosa e de reconhecimento.
Desde os primeiros dias de vida, o colo é onde o bebê encontra regulação: do choro, do medo, da ansiedade, da dor. Mas esse espaço de acolhimento não deixa de ser necessário com o tempo.
Crescemos, é verdade — mas ainda precisamos de um lugar onde possamos descansar sem medo de sermos julgados por sentir.
O processo de crescimento e amadurecimento envolve nos responsabilizarmos por atender as nossas necessidades, aprendendo a acolher a nós mesmos, mas também a pedir colo quando precisamos.

Colo também é linguagem
Um colo fala:
- “Estou aqui com você”
- “Você pode descansar em mim”
- “Você não precisa dar conta sozinha agora”
Essa linguagem fortalece laços com presença, amor e confiança. Não se trata de dependência, mas de uma rede de apoio afetiva.
Assim, quando esse espaço pode existir na relação entre mães e filhos, ele permite que o vínculo se fortaleça de maneira mais madura e profunda.
Não se trata de dependência, mas de saber que existe um lugar de repouso, um afeto confiável no qual é possível receber apoio.
Dar colo para a mãe sem inverter papéis
Muitas vezes, na vida adulta, vamos nos deparar com a dor de ver nossas mães fragilizadas, cansadas, emocionalmente feridas ou sobrecarregadas.
Nessa hora, pode surgir o impulso de acolhê-las – de ouvir com presença, de abraçar, de fazer carinho, de oferecer palavras de conforto. Isso é “dar colo”.
Dar colo à mãe não é inverter papéis e ocupar um lugar de salvadora codependente. É apenas reconhecer que essa mulher que cuidou, também precisa de cuidado.
É uma oportunidade de enxergá-la além do papel materno: como alguém com uma história, com falhas, com dores próprias que vêm de antes da nossa existência.
Mas aqui é importante uma atenção: dar colo à mãe não deve ser uma cobrança ou exigência emocional.
Para alguns, isso realmente só poderá ser genuinamente possível depois de muito trabalho interno – especialmente se a mãe não foi disponível, ou se houveram feridas emocionais profundas. Por isso, esse gesto precisa vir do afeto, não da culpa.

A simbiose e o cuidado com o que não nos pertence
A simbiose entre mãe e bebê é fundamental no início da vida: é por meio dela que a mãe se conecta profundamente às necessidades do filho e oferece o cuidado essencial à sobrevivência.
Mas quando essa fusão emocional se prolonga ou se reedita ao longo da vida, o filho pode carregar dores, pesos e sentimentos que, na verdade, pertencem à mãe.
Por isso, é fundamental reconhecer o que é seu — e o que não é. Você pode cuidar, escutar, estar presente. Dar o que você tem pra dar sem carregar consigo o que não te pertence.
Assuma seus sentimentos: o seu colo também sente
Acolher a sua mãe não significa se tornar uma fortaleza e deixar de lado o que você sente. Assumir os seus próprios sentimentos também fortalece: tristeza, raiva, exaustão — o que for seu, é legítimo.
E justamente por estar no seu lugar — como filho ou filha — é que você poderá oferecer um acolhimento verdadeiro. Um colo consciente, com afeto, sem sobrecarga.
Dar colo não significa anular-se. Significa estar inteiro diante do outro, reconhecendo o que é seu e o que é do outro, no qual os dois sabem seus lugares, mas podem se ajudar. É assim que criamos relações mais saudáveis: com amor, presença e limites claros.
Vulnerabilidade compartilhada
Na clínica, vejo que tanto receber quanto dar colo são formas de quebrar ciclos de dureza e desconexão. Acolher e ser acolhido criam espaço para a vulnerabilidade, e a vulnerabilidade compartilhada é uma das forças mais poderosas de transformação nas relações.
Muitos crescem em contextos familiares onde as emoções são silenciadas ou confundidas com fraqueza. Aprendem a amar com reservas, a cuidar com rigidez, a se relacionar sem se expor por completo — por medo, por lealdade, ou porque nunca ensinaram outro jeito.
Mas quando alguém na relação tem a coragem de se mostrar de forma autêntica — cansado, tocado, emocionado — e pode ser recebido com empatia no lugar do julgamento, algo muda.
Ali nasce o espaço da vulnerabilidade compartilhada. São dois humanos, frente a frente, reconhecendo que sentir não é fracasso, mas parte da vida.
A vulnerabilidade compartilhada é o solo fértil onde relações verdadeiras podem crescer. Ela permite que haja espaço para escuta, para pausa, para verdade.
E muitas vezes, é nesse instante — onde ninguém precisa mais fingir que dá conta de tudo — que o amor começa a respirar de novo e o colo pode genuinamente existir.
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Palavra de mãe: minha vivência com o poder do colo
A seguir, a terapeuta holística Regina Restelli, mãe da autora do artigo Luisa Restelli , fala sobre o assunto, do ponto de vista materno.
Sou terapeuta holística e, mais do que isso, sou mãe. Hoje, quero compartilhar minha visão materna sobre algo essencial — e muitas vezes negligenciado: o colo.
Costumo dizer que filhos só conseguem oferecer colo se, um dia, aprenderam o que é recebê-lo. Ainda carregamos a ideia equivocada de que apenas bebês e crianças precisam ser acolhidos — como se o colo fosse uma muleta emocional para quem não tem maturidade.
Mas a verdade é que todos nós precisamos de colo, sempre. Somos, em essência, carentes de amor — mesmo que não admitamos.
Vejo que a geração dos meus pais foi criada num cenário de pós-guerra, em meio à severidade, escassez e pouca demonstração física de afeto. Havia uma distância emocional entre pais e filhos. O colo só aparecia em raras exceções. O que predominava era a rigidez, a dureza, a contenção.
Na década de 60, o movimento hippie rompeu com esse padrão. Pregava o contato, o “paz e amor”, a liberdade afetiva.
Desde então, temos vivido transformações profundas. E agora, nesta fase de transição global, temos a chance de reinventar os relacionamentos, que tendem a se tornar cada vez mais virtuais, e resgatar o valor do toque, do contato físico, da presença real.

Colo e o hormônio do amor
Quero destacar aqui um ponto essencial: a oxitocina. Esse neuro-hormônio, conhecido como o “hormônio do amor” ou da conexão, é liberado através de vínculos afetivos e toques físicos. Ele atua diretamente no corpo, transformando nosso estado emocional e fortalecendo o sistema imunológico.
Produzida no hipotálamo e liberada pela neuro-hipófise, a oxitocina está envolvida em processos como:
- Parto e amamentação,
- Vínculos afetivos (entre mãe e filho, casais, amigos),
- Respostas de empatia, confiança e bem-estar.
E por que abraço e colo fazem milagres?
Um abraço de pelo menos 20 segundos já ativa a produção de oxitocina, trazendo:
- Redução do cortisol (hormônio do estresse),
- Relaxamento do sistema nervoso,
- Sensação de segurança e pertencimento,
- Efeitos diretos sobre o chakra cardíaco — o toque amoroso harmoniza nossos centros energéticos.
✨ Um abraço é quase uma sessão expressa de harmonização energética para o sistema límbico.
Agora, imagine quanto amor se ativa num bom colinho amoroso? O efeito terapêutico é real — sobre o corpo, a mente e a alma. E devemos usar esse recurso precioso para gerar mais alegria em nós e nos outros.
Como e quando oferecer colo
No papel de mãe, reconheço que nem sempre é fácil saber quando oferecer colo — especialmente quando estamos tentando educar. Mas ouso dizer: sempre que um filho precisar de acolhimento, o colo é válido.
Às vezes, basta perguntar com amor: “Você está precisando de um colo?”
Esse gesto simples pode abrir espaço para o amadurecimento emocional.
Na adolescência, o carinho pode ser rejeitado ou parecer “vergonhoso”. Ainda assim, o mais importante é deixar claro que o colo está disponível. Que o amor está lá — mesmo quando discordamos das escolhas dos nossos filhos.
Assim construímos respeito mútuo. Aprendemos juntos que podemos errar, mas também que não estamos sozinhos.
Quando nós, mães, também precisamos de colo
Olhando de outro ângulo: nós, mães, também vamos precisar de colo. Seja nos momentos de fragilidade, dor ou ao longo do envelhecimento. Também desejaremos carinho, atenção, paciência — como oferecemos aos nossos filhos.
Mas isso se ensina. Se planta. O respeito amoroso nasce do vínculo construído com presença e afeto.
Ter colo dos filhos é colher o que se plantou.
Finalizo com um lembrete essencial: filhos repetem os exemplos que viveram. Ninguém pode oferecer o que nunca recebeu ou aprendeu a valorizar.
Colo de mãe é bálsamo. Receber colo dos filhos é um conforto que pacifica.
Essa ligação amorosa cura. Dar e receber colo é escolher viver com mais afeto, mais conexão e mais presença.
Conclusão: o poder do colo é um caminho de volta ao amor
Sempre repito o que a ciência — e a energia — já reconhecem: “Escolhemos o que queremos viver.”
Então, por que não escolher mais amor? Mais abraços longos, mais colos silenciosos, mais afeto visível?
A relação entre mãe e filho é a base de tudo. É onde tudo começa. Portanto, aprenda a dar colo. Aprenda a receber colo.
Viva essa autocura. E desfrute dessa alegria.
Psicóloga e Psicoterapeuta Corporal Reichiana. Realiza atendimentos no RJ e online, grupos terapêuticos para mulheres e palestras.
Saiba mais sobre mim- Contato: luisarestelli.psi@gmail.com
- Site: http://www.luisarestelli.com