Geração Dopamina: por que buscamos o próximo pico de prazer?
Somos a Geração Dopamina: vivemos hiperestimulados, viciados em prazer rápido e insatisfeitos. Entenda o impacto disso no nosso cérebro
Por Amanda Guimarães
Vivemos na era da Dopamina. Seja nas redes sociais, no sexo, na comida ou nas relações, estamos sempre atrás da próxima dose. Essa é a marca da Geração Dopamina, viciada em prazer imediato e sempre em busca do próximo pico de prazer.
Seja nas redes sociais, no sexo, na comida ou nas relações, estamos sempre atrás da próxima dose. Mas o que está por trás disso?
O que é a dopamina e por que ela nos vicia?
A dopamina é o neurotransmissor da expectativa. Diferente do que muitos pensam, ela não está diretamente ligada ao prazer em si, mas sim à antecipação do prazer.
É aquela faísca química no cérebro que nos faz buscar recompensas. Ou seja, não é quando você come um chocolate que ela explode, mas, sim, quando você pensa em comer o chocolate, abre a embalagem e sente o cheiro.
É aí que está o perigo: quanto mais vivemos baseados na antecipação, menos prazer encontramos na experiência em si.
Isso explica por que ficamos tão viciados em estímulos rápidos, como redes sociais, pornografia e junk food: estamos sempre correndo atrás da próxima dose de dopamina, sem nem perceber que o verdadeiro pico vem da antecipação e não da experiência em si.
Por que estamos vivendo a Geração Dopamina?
Atualmente, tudo que buscamos é para maximizar as chances de prazer e reduzir as possibilidades de dor.
Historicamente, já tivemos momentos parecidos, como os estoicos gregos e a onda de hedonismo no pós-Segunda Guerra Mundial, por exemplo.
Mas nunca tivemos tanto acesso a estímulos – e isso tem transformado a forma como nosso cérebro percebe o prazer.
Ainda que prazer e sexualidade sejam coisas diferentes, dentro do meu trabalho como cartomante e terapeuta holística, guiando grupos de mulheres, é impossível falar de dopamina e prazer sem falar sobre como nos relacionamos com a sexualidade.
Para chegar nesse ponto de entendimento da correlação entre dopamina, sexualidade e a dificuldade de atingir prazer – mesmo tendo tantas opções disponíveis, acho importante explicar o que é a dopamina e quais os efeitos dela no nosso corpo.
Os perigos do excesso de dopamina no cérebro
O problema de viver no primado da fantasia é que, quanto mais alimentamos a expectativa, mais difícil se torna sentir prazer real.
Isso porque o nosso cérebro funciona em um sistema de compensação: ele sempre busca equilíbrio entre estímulos e respostas.
Quando nos bombardeamos com superestímulos – redes sociais, pornografia, comida ultraprocessada, notificações, aplicativos de namoro –, a dopamina é liberada em picos cada vez mais altos.
O problema? O cérebro se adapta e reduz a sensibilidade aos estímulos.
O resultado disso é um ciclo vicioso de insatisfação. Quanto mais dopamina buscamos, mais difícil se torna sentir prazer de forma natural. E isso tem impactos diretos na sexualidade e no nosso bem-estar.
1. A hiperssexualização e a dificuldade de sentir prazer
Vivemos a era da hiperssexualização. A ironia? Nunca se transou tão pouco. Pesquisas mostram que as novas gerações estão fazendo menos sexo do que as anteriores.
Um estudo da Universidade de Chicago revelou que 23% dos jovens entre 18 e 30 anos nos EUA não tiveram nenhuma experiência sexual no último ano, um aumento significativo em relação às décadas anteriores.
E não é só a quantidade que está mudando, mas também a qualidade da experiência sexual. Cada vez mais pessoas relatam dificuldade em se conectar com o próprio desejo, disfunção erétil induzida por pornografia e falta de libido.
O motivo? O cérebro acostumado a estímulos rápidos e intensos perde a capacidade de sentir prazer em interações reais e mais sutis.
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2. Dopamina e o vício em estímulos rápidos
Outro efeito colateral do excesso de dopamina é que ele nos torna dependentes de gratificação instantânea.
- Se uma conversa se torna entediante, basta pegar o celular.
- Se um vídeo demora mais de cinco segundos para prender a atenção, deslizamos para o próximo.
- Se um encontro real não entrega a intensidade esperada, é mais fácil recorrer a um estímulo digital do que se abrir para a complexidade do desejo humano.
Isso cria um padrão de impaciência crônica, onde experiências mais lentas – como construir intimidade, aprender algo novo ou simplesmente curtir o momento presente – parecem desinteressantes.
Nosso cérebro fica condicionado a picos rápidos de dopamina e perde o interesse por tudo que exige esforço e tempo.
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3. O esgotamento do sistema de prazer
Quando estamos sempre ativando o sistema de recompensa do cérebro, chegamos a um ponto de exaustão dopaminérgica. Isso pode se manifestar como:
- Baixa motivação e falta de prazer nas coisas comuns (trabalho, lazer, relações afetivas)
- Dificuldade de sentir tesão em experiências reais
- Desinteresse por sexo, mesmo em pessoas com libido alta no passado
- Cansaço constante e procrastinação
Nosso cérebro, que antes se excitava com pequenas doses de prazer, passa a precisar de estímulos cada vez mais intensos para reagir – e ainda assim, o prazer dura menos tempo.
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Existe saída para a Geração Dopamina?
Sim! Na vida tem jeito pra tudo, só não tem pra morte. Dito isso, o remédio para o excesso de dopamina envolve, entre outras coisas, uma redução na busca por estímulos. E é aí que mora o problema (e a solução também!).
Nos últimos anos, temos visto um aumento exponencial na busca por retiros espirituais, desintoxicação digital, minimalismo e práticas de atenção plena como forma de escapar do frenesi dopaminérgico.
O mercado de bem-estar explodiu vendendo a ideia de que a solução para o nosso esgotamento está em silenciar notificações, meditar ao nascer do sol e adotar um estilo de vida mais simples e conectado com o presente.
E de fato, há algo de verdadeiro nisso: reduzir estímulos, seja diminuindo o consumo de pornografia, saindo do ciclo vicioso das redes sociais ou simplesmente reaprendendo a se entediar, pode ajudar o cérebro a reequilibrar seu sistema de recompensa.
É por isso que vemos cada vez mais gente se desconectando para tentar recuperar o prazer em experiências mais autênticas – e o boom de retiros de silêncio, viagens para o meio do mato e “detox de dopamina” reflete exatamente essa necessidade.
Mas aqui entra uma crítica importante: quem pode se dar ao luxo de desacelerar?
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O privilégio do detox
A maior ironia desse movimento é que, enquanto uma parte da população está refém da dopamina porque precisa estar sempre conectada – seja por trabalho, estudo ou simplesmente pela luta diária de sobreviver –, outra parte pode pagar (e caro!) para se isolar e “redefinir” seu cérebro.
Fazer um retiro na Chapada dos Veadeiros ou passar uma semana sem celular num templo zen na Bahia é incrível, mas acessível para poucos.
A solução para o esgotamento gerado pelo excesso de estímulos muitas vezes se transforma em um luxo de classe média-alta e alta, reforçando desigualdades estruturais.
Enquanto algumas pessoas se sentem ansiosas devido ao excesso de escolha, outras mal têm o direito de parar para sentir prazer. O problema não está só na dopamina – está no sistema que cria estímulos viciantes para uns e nega o direito ao descanso para outros.
No fim das contas, o verdadeiro desafio não é só reduzir os picos de dopamina, mas entender por que vivemos num modelo que nos obriga a estar sempre estimulados – e quem lucra com isso.
O caminho para um prazer mais profundo e real não está só no detox digital, mas na construção de um mundo onde todo mundo tenha o direito de viver (e não apenas produzir e consumir).
Como se reconectar com o prazer real
Se o excesso de dopamina nos prende num ciclo vicioso de busca infinita por estímulos, a saída está na reaprendizagem do prazer em suas formas mais simples e genuínas. Pequenos passos fazem a diferença:
- desacelerar o consumo de redes sociais
- criar momentos de presença plena (seja comendo, ouvindo música ou transando sem pressa)
- investir em experiências sensoriais offline
- redescobrir o valor do tédio como espaço para criatividade e desejo.
O prazer real não vem da dopamina desenfreada, mas da capacidade de estar inteiro na experiência, sem precisar do próximo pico para se sentir vivo.
Amanda R. Guimarães é cartomante, terapeuta holística e comunicadora, unindo tarot, bruxaria natural e aromaterapia para promover autoconhecimento. Host do Entre Tapas & Cartas, capacita minorias e inspira jornadas pessoais.
Saiba mais sobre mim- Contato: arguimaraes19@gmail.com