Jardim Zen de Ryoanji e culinária zen-budista: uma experiência no Japão
Descubra o jardim zen mais famoso do Japão e a culinária zen-budista em um relato do jornalista Arthur Veríssimo
Por Mariana Amaral
A Virada Zen 2025 será um encontro de muitas práticas, saberes e vivências que ajudam a olhar a vida com mais presença, serenidade e consciência.
Entre os convidados que compartilham essa visão, tenho a alegria de apresentar aqui no Personare um texto de Arthur Veríssimo, jornalista, apresentador e explorador incansável de culturas, espiritualidades e experiências transformadoras.
Com sua curiosidade sem limites e mais de quatro décadas dedicadas à comunicação, Arthur nos convida a viajar junto com ele para o Japão, entre jardins contemplativos e a culinária zen-budista.
Seu olhar detalhista revela como a simplicidade, a estética e a disciplina do Zen podem se manifestar em cada detalhe do cotidiano – seja em um jardim de pedras ou em uma refeição preparada por monges.
Este relato é um convite a mergulhar em uma vivência que une beleza, sabor e espiritualidade, e que já nos conecta à energia que vamos compartilhar na Virada Zen 2025, em São Paulo.
✨ Boa leitura!
Jardim Zen de Ryoanji e culinária zen-budista: uma experiência no Japão
por Arthur Veríssimo
Admirava o cenário minimalista do jardim de pedra no templo de Ryoanji, na parte oeste da cidade de Kyoto. Para compensar os dias chuvosos que castigavam a região, naquela manhã o sol havia aparecido timidamente entre as nuvens.
Com apenas 300 m² e 15 rochas espalhadas em um chão retangular coberto de pedrinhas brancas de cascalho, o local é considerado o jardim zen mais famoso do mundo.
O ambiente foi criado e concebido como um portal de meditação.

Diferenças para outros jardins
O jardim Zen de Ryoanji é completamente diferente dos jardins encontrados:
- Na Europa
- Nos interiores da Índia
Aqui não existem árvores, arbustos, flores ou fontes.
O desafio da contemplação
Respirava e meditava no portal zen com uma multidão de turistas ao redor, cada um tentando decifrar o significado do jardim. A contemplação silenciosa era uma tarefa difícil diante do zum-zum-zum e dos disparos das máquinas fotográficas.
Meu olhar divagava juntamente com a respiração, enquanto contemplava as paredes que circundam o jardim, feitas de barro cozido em óleo, em comunhão absoluta com os cascalhos e as rochas.
O templo foi fundado em 1450, e o jardim planejado por Soami, pintor e paisagista falecido em 1525.
Diversas teses e interpretações já foram reveladas, mas o significado do jardim permanece aberto a quem se dispõe a mais do que tirar fotografias.

Uma Experiência Gastronômica Zen
Ao final da entrecortada meditação, decidi continuar minha pesquisa de campo com outra experiência: visitar o templo de Tenryu-ji para degustar a mais autêntica culinária zen.
O encontro com Bodhidarma
Na fachada de entrada do templo, somos recebidos por uma pintura do venerado Bodhidarma, introdutor do budismo zen no Japão, conhecido como Daruma.
A fome já extrapolava o bom senso. Perguntei a um jardineiro simpático onde ficava o restaurante. Entre sorrisos e risadas, compreendi que o local se chamava Shigetsu, situado nos fundos do complexo. Acertei em cheio.
O Restaurante Shigetsu
O restaurante é simples e austero. As salas de refeição não possuem gravuras, cadeiras, mesas ou qualquer arranjo.
Sentei no tatame, e uma senhora apresentou o que seria nosso almoço. Concordei e pedi que trouxesse todos os itens do menu.
Enquanto aguardava, li um folheto explicativo: as refeições eram planejadas e preparadas pelo monge-chef (Tenzo).
O papel do Tenzo
O Tenzo tem a responsabilidade de servir refeições que:
- Eliminem obstáculos mentais e corporais
- Possam ser praticadas como extensão do Zen
- Mantenham harmonia entre os seis sabores básicos: amargo, azedo, doce, salgado, leve e quente
👉 Ingredientes de odores fortes, como alho e cebola, são banidos da culinária zen-budista.
A Refeição Zen-Budista
O almoço foi um verdadeiro manjar zen-budista.
- A bandeja e as cumbucas eram cobertas por fina camada de laca
- O visual agradava o olhar e ativava o paladar
Composição da refeição
O conjunto incluía:
- Cumbucas de arroz branco
- Tofu quente com cogumelo
- Tofu doce com leve sabor de canela
- Conservas de pepino
- Beterraba ralada
- Fava
- Natto
- Acepipes misteriosos
A mistura dos sabores estimulava intensamente as papilas gustativas, oferecendo algo completamente diferente do que encontramos em restaurantes vegetarianos ao redor do mundo.
Ao final, foi servida uma densa sopa de tofu em molho coberto de gergelim.
A Rotina dos Monges
Depois de insistir com a coordenadora, pude conhecer a cozinha oficial do templo.
O Tenzo explicou que os monges em treinamento fazem três leves refeições diárias:
- Manhã: tigela de mingau de arroz, ameixa salgada e rabanetes em conserva
- Almoço: tigela de arroz ou cevada, sopa, legumes cozidos e picles
- Noite: uma refeição levíssima, feita com mingau das sobras do almoço e da primeira refeição
Cada monge lava e cuida de seu conjunto de utensílios (cumbucas e palitinhos). Nada é desperdiçado: até a água da limpeza é ingerida ou reaproveitada.
Uma Experiência Transformadora
A experiência culinária no templo foi fascinante, além de me encher de energia para continuar a peregrinação pelos castelos, mosteiros e para contemplar a beleza do desabrochar das cerejeiras.
📖 Esse relato faz parte do meu livro ONDEROAD (Editora Realejo).
Publicitária e articuladora cultural, Mariana Amaral é idealizadora da Virada Sustentável e da Virada Zen, iniciativas que transformam o espaço urbano por meio da arte, do bem-estar e da consciência coletiva, com projetos inovadores e regenerativos.
Saiba mais sobre mim- Contato: mariana@viradazen.com.br
- Site: https://viradazen.com.br