Especial 2º semestre

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Síndrome de aniversário: o que é e por que datas importantes se repetem na família?

Repetição de datas não é coincidência e transmite importante mensagem

Atualizado em

Você já percebeu que algumas datas significativas se repetem na sua família, como aniversários, falecimentos ou acidentes? O conceito de síndrome de aniversário propõe que isso não é mera coincidência, mas, sim, uma manifestação do inconsciente familiar.

Esse padrão pode ser um convite para olhar com mais atenção para a própria história, emoções e vínculos familiares que ainda precisam ser elaborados.

Resumo: o que é importante sobre a Síndrome de Aniversário

  • A síndrome de aniversário é a repetição de datas marcantes (como mortes, acidentes ou nascimentos) em diferentes gerações familiares.
  • Esses padrões podem sinalizar questões não resolvidas ou sentimentos reprimidos.
  • O inconsciente familiar age mesmo quando a escolha da data parece aleatória.
  • A repetição é uma forma de buscar ressignificação de eventos dolorosos.
  • Sintomas físicos ou emocionais próximos a datas importantes podem indicar alertas do inconsciente.
  • Terapias ajudam a lidar com essas repetições.

O que é a síndrome de aniversário?

A síndrome de aniversário é um conceito desenvolvido por Anne Ancelin Schutzenberger, psicóloga que observou em sua família — e confirmou em consultório — a repetição de datas importantes, como falecimentos e nascimentos, ao longo das gerações.

Essas repetições podem envolver:

  • Acidentes em dias próximos
  • Nascimentos na mesma data de falecimento de um ancestral
  • Mortes com idades ou doenças semelhantes
  • Casamentos na mesma época de eventos traumáticos

Como identificar a síndrome de aniversário na sua vida?

Um bom exercício é fazer uma lista com as datas de infortúnios ou acidentes graves ocorridos na sua família.

Em seguida, se pergunte: esses eventos se repetem em mais de uma geração?

Talvez você encontre:

  • Óbitos na mesma data de aniversários ou casamentos;
  • Acidentes em dias próximos;
  • Pessoas que faleceram com a mesma idade ou em condições semelhantes.

Sim, é possível que um evento positivo esteja simbolicamente vinculado a um evento estressante ou traumático, como se fosse um convite para olhar de novo para aquilo que ainda precisa ser elaborado.

Esses padrões podem apontar para algo que você ainda precisa ver e compreender no seu sistema familiar.

A repetição de datas quer dizer o quê?

A repetição é uma forma de compreendermos aquilo que não foi assimilado no passado — por nós ou por alguém da família.

Nesse sentido, perceber uma data se repetindo pode ser simplesmente uma chance de dar novo significado a uma ação ou sentimento.

Para ilustrar, pense em quantas crianças nascem no dia do aniversário de vida ou morte de uma avó ou um avô. E nem precisa ser exatamente o mesmo dia — uma data próxima já pode sinalizar uma ligação emocional entre mãe e filha, mãe e pai, avós e netos.

Pode parecer estranho imaginar que a data de um nascimento — algo que muitas vezes não controlamos — esteja relacionada com o passado.

Mas é exatamente assim que age o inconsciente, que é ainda mais poderoso quando falamos de memórias familiares transmitidas entre gerações.

Coincidência ou sinal de algo mais profundo?

Talvez a repetição de uma data não nos pareça relevante de imediato. Como no exemplo do nascimento de uma criança no mesmo dia da morte da avó — isso pode simbolizar algo que precisamos olhar.

Alguma pendência emocional, talvez não resolvida pela mãe em relação à sua própria mãe, que pode emergir futuramente no vínculo com essa filha.

Mas não é preciso esperar o conflito aparecer para agir. Sentimentos mal elaborados, mesmo quando acreditamos já tê-los superado, podem e devem ser trabalhados. Isso faz parte do processo contínuo de autoconhecimento.

O corpo também fala: sintomas perto de datas significativas

Pode acontecer de, ao se aproximar uma data importante — como o aniversário de morte de alguém, um acidente ou uma grande perda — começarmos a sentir incômodos físicos ou emocionais.

Esses sintomas, que também são expressões do inconsciente, são excelentes sinalizadores de que algo interno precisa de atenção.

Ou seja, dores, angústia, irritação sem motivo claro… tudo isso pode ser uma forma do nosso sistema dizer: “olhe para isso”.

Caso real: repetição de idade e circunstâncias entre pai e filho

Certa vez, atendi um senhor que estava profundamente transtornado após ter agredido sua filha adolescente. Segundo ele, “perdeu a cabeça”. Durante nossa conversa, surgiu o rancor que ele sentia do pai falecido, que costumava bater nele, e por isso ele havia prometido nunca repetir o padrão com suas filhas.

Fizemos juntos a árvore genealógica. Descobrimos que o pai dele faleceu com a mesma idade que ele tinha naquela época. E mais: na época da morte do pai, ele tinha a mesma idade da filha. Esse encontro de datas não era coincidência.

Então, poucos dias após essa sessão, esse senhor, que já estava fazendo exames devido ao histórico cardíaco, faleceu por infarto — tal como seu pai.

O inconsciente sinalizou, por meio do evento com a filha, que algo não resolvido com o pai estava “tomando conta dele”. Poderíamos nos perguntar: se ele tivesse limpado esses sentimentos, será que ainda estaria vivo?

Mas ele poderia ter trabalhado essas emoções com técnicas que ajudam a limpar memórias emocionais e cortar padrões repetitivos, como:

A pergunta que fica é: morrer da mesma forma foi a lealdade máxima que pôde oferecer ao pai?

Nem sempre conseguimos ver sozinhos

Talvez nem sempre seja possível enxergar essas repetições e sincronicidades sozinho. Por isso, contar com a ajuda de um terapeuta especializado em Psicogenealogia pode ser fundamental para desatar os nós da própria história.

Dar a devida atenção ao inconsciente familiar, ao invés de negá-lo, é parte do nosso amadurecimento. Afinal, ser adulto é se apropriar da própria história para fazer escolhas mais conscientes.

Maria Cristina Gomes

Maria Cristina Gomes

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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