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Disfunção sexual e os efeitos do vício em pornografia

Estudo afirma que pessoas viciadas em pornografia mostram atividade cerebral semelhante a alcoólatras ou viciados em drogas

Atualizado em

Você sabia que, de acordo com um estudo de 2013 da Universidade de Cambridge, o vício em pornografia pode ativar áreas do cérebro de forma similar ao que acontece com dependentes de álcool ou drogas?

A pesquisa revela que a pornografia pode não apenas afetar a mente, mas também prejudicar as relações pessoais e a saúde sexual.

Neste artigo, vamos explorar os impactos profundos desse vício na sexualidade humana, desde a disfunção sexual até as consequências para a vida afetiva de quem sofre com isso.

O Estudo de Cambridge e Seus Resultados Alarmantes

Em 2023, a Universidade de Cambridge realizou um estudo que trouxe à tona dados alarmantes sobre o vício em pornografia. A pesquisa revelou que pessoas com dependência de pornografia exibem uma atividade cerebral semelhante à de alcoólatras ou viciados em drogas.

A cientista-chefe Dra. Valerie Voon, do Departamento de Psiquiatria, afirma: “Encontramos uma atividade maior em uma área do cérebro chamada estriado ventral, que é um centro de recompensa, envolvido no processamento de recompensa, motivação e prazer.”.

Esse estudo sugere que o cérebro de quem é viciado em pornografia responde de maneira semelhante àqueles que consomem substâncias viciantes.

Esse dado é alarmante, pois revela o quanto a pornografia pode afetar o cérebro, ativando as mesmas áreas associadas a comportamentos compulsivos, como o uso de álcool ou drogas.

Fatores que Contribuem para o Vício em Pornografia

Proponho analisarmos isso a partir de alguns questionamentos.

Todos estamos fadados ao vício em pornografia apenas por sermos usuários dela? Claro que não.

Não se torna um viciado apenas por se servir da pornografia, há que se considerar fatores individuais. Tais como pré-disposições orgânicas, tal qual assola o dependente químico (e isso já agradecemos ao estudo acima).

Assim como no caso dos dependentes químicos, a predisposição orgânica pode influenciar a vulnerabilidade de uma pessoa ao vício em pornografia.

Isso explica por que algumas pessoas conseguem usar substâncias ou comportamentos como a pornografia de forma recreativa. Enquanto outras podem se tornar viciadas após um contato breve.

Hoje, a pornografia encontra um terreno fértil na internet. Estima-se que cerca de 12% de todos os sites na internet são dedicados à pornografia, o que equivale a aproximadamente 76,2 milhões de sites.

O fácil acesso, a variedade de opções e a impossibilidade de esgotar a busca por conteúdo geram um ciclo vicioso.

Esses fatores tornam cada vez mais difícil para aqueles que já começam a perceber os danos desse comportamento se distanciar da pornografia.

Vício em Pornografia: Como Saber se Está Afetando Sua Vida?

A questão de identificar o vício em pornografia é delicada e depende do impacto que ele causa na vida do indivíduo e em seus relacionamentos.

Um bom indicativo de vício é a avaliação do sofrimento emocional e social que o consumo de pornografia pode gerar.

Se o uso da pornografia começa a afetar suas relações pessoais e profissionais, pode ser um sinal de que o vício está se instalando.

Veja, há pessoas que chegam ao absurdo de não mais se relacionarem com outras, pois as trocou pelo mundo virtual, suas fantasias e suas infinitas ofertas.

Indivíduos assim chegam a uma idealização tão grande da sua forma de sentir prazer, que o outro se torna desinteressante. Aliás, o outro pode se tornar até um problema, pois será o agente da repressão de seu prazer livre vivido na pornografia, esta, sua companheira que jamais o julgará.

Tudo faz parte de uma mistura de um exercício do autoprazer pela pornografia, e uma forma de fuga dos grandes desafios do encontro com o outro (alteridade). Portanto, engodos que também cobrarão o seu preço, muito provavelmente com sofrimento.

Por Que os Homens São Mais Afetados pelo Vício em Pornografia?

Relatos de psicólogos e psiquiatras especializados em sexualidade humana, assim como a minha experiência em consultório, trazem indivíduos entre 25 e 30 anos representando a maior faixa etária de incidência desse vício.

Contudo, esse problema pode atingir a todos, e o fator em comum para essas pessoas buscarem ajuda profissional para se livrarem da pornografia é a necessidade de voltar a sentir desejo pelo outro.

Pesquisas indicam que os homens são mais afetados por esse vício do que as mulheres. Aproximadamente 90% dos homens já acessaram pornografia online, enquanto 30% a 40% das mulheres afirmam nunca ter feito o mesmo.

Isso se deve a fatores socioculturais e às diferentes formas com que homens e mulheres se relacionam com o prazer e com o corpo.

Por que os homens?

Não temos espaço aqui para nos aprofundarmos nisso, no entanto, alguns fatores se destacam:

  • O homem é muito mais afetado pelo estímulo visual do que a mulher. A mulher, por sua vez, é mais sensível ao toque, gosta da conquista, da sedução.
  • O homem possui uma relação com a masturbação infinitamente mais desenvolvida do que a mulher. Isso, claro, se deve a um sistema patriarcal repressor que nos doutrina, mas também pela diferença anatômica do órgão genital, que facilita o acesso.

Disfunções Sexuais Causadas pelo Vício em Pornografia

Os relatos dos potenciais viciados em consultório são:

  • Ausência de desejo sexual: Pessoas que sentem falta de contato físico, mas não conseguem sentir desejo sexual pelo outro.
  • Disfunção erétil e anorgasmia: Homens podem perder a capacidade de manter ereções ou de atingir o orgasmo.
  • Masturbação excessiva: Alguns indivíduos machucam seus genitais devido ao excesso de masturbação, buscando uma satisfação que não encontram em um relacionamento real.

Esses são apenas alguns exemplos de como o vício em pornografia pode levar a disfunções sexuais graves e complicações emocionais.

O Impacto do Vício em Pornografia nas Relações Afetivas

O vício em pornografia não afeta apenas quem consome, mas também os parceiros(as) envolvidos. Muitas vezes, os parceiros se sentem negligenciados, trocados por um “concorrente intangível” — a pornografia.

Isso pode resultar em um distanciamento emocional, frustração sexual e até separações.

O mais problemático é que, com o tempo, o vício pode tornar o contato físico com o parceiro menos prazeroso. Isso porque o vício cria uma idealização que não pode ser replicada no mundo real.

É importante ressaltar que, quando o consumo de pornografia interfere no desejo sexual, na capacidade de se relacionar e de conectar-se com outra pessoa, o problema vai além do consumo casual — ele se torna uma dependência.

Como o Vício em Pornografia Afeta a Sexualidade e o Corpo

O vício em pornografia pode levar a uma confusão profunda na formação da sexualidade, especialmente em jovens que ainda estão desenvolvendo suas experiências sexuais.

Ao se acostumar com imagens e performances fantasiosas, eles podem se frustrar ao perceber que a realidade não corresponde às expectativas criadas pela pornografia.

Esse vício pode criar um ciclo de autossuficiência, onde a pessoa se volta para a pornografia como uma maneira de satisfazer suas necessidades sexuais, mas acaba limitando suas experiências com o outro.

Pornografia: O Que Realmente é?

Bem, em dias atuais fica difícil cravar o que exatamente é pornografia ou apenas um exercício do seu prazer. Se formos percorrer historicamente a pornografia, aí fica mais difícil ainda.

O que no passado era considerado um ato pornográfico — como a masturbação ou uma mulher de biquíni — hoje pode ser visto de maneira muito diferente.

A liberdade sexual, como defendida por figuras como Leila Diniz, gerou muito debate e resistência na sociedade brasileira, mas, no final, trata-se do direito individual de explorar o prazer.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sexo é saudável quando praticado de forma consensual e sem causar danos a si mesmo ou a outro. Isso implica que, mesmo com o consumo de pornografia, o importante é garantir que não haja dano físico ou psicológico.

O professor Leandro Karnal afirma que no sexo, tudo pode, desde que os envolvidos estejam de acordo, sejam maiores e capazes (pleno gozo de suas faculdades mentais).

Como Superar o Vício em Pornografia?

Bem, como sou especialista em Relacionamento e Sexualidade e terapeuta, minha dica seria sempre buscar ser o mais verdadeiro possível, não só consigo, ou seja, a partir da liberdade que conseguiu alcançar no prazer sentido através da pornografia. 

Procure ser verdadeiro com o outro, ou seja, busque expor ao outro o que te faz buscar a pornografia: 

Troque essas e outras questões com a sua ou seu parceiro(a). E mais: ouso dizer que seria o clímax da solução ao compartilhar esse problema.

  • Por que não incluir sua pessoa parceira em suas fantasias?
  • Por que ela ou ele não podem ser os astros reais, tangíveis do seu prazer? Convide-o(a) para o seu mundo!

Sabemos estar diante de questões delicadas, geralmente dificuldades vividas sozinho por toda uma vida. Principalmente para casais de idade mais avançada, são tabus difíceis de transpor por uma juventude que procura a sua liberdade. Mas não acha as informações, não encontra apoio em seus genitores e nem eco nos seus pares.

Mesmo assim, insisto, em um relacionamento, só a verdade tem espaço para a saúde da relação em seu âmbito mais profundo, respeitando-se sempre a individualidade dos três “entes” da relação: O Eu, o Tu e o Nós.

Conclusão: O Vício em Pornografia é uma Fuga da Realidade

O vício em pornografia representa uma fuga da realidade, onde a fantasia se torna mais atraente do que o contato genuíno com o outro.

Viciar-se em pornografia é, essencialmente, viver em um mundo de ficção, isolando-se do prazer real e da troca emocional que são essenciais para uma vida sexual saudável.

É abrir mão do outro e, sem o outro, sem a troca, seríamos um eterno resumo de nós mesmos, pouco dentro de uma infinita possibilidade de outros Eus individuais. Cada qual a seu modo, com suas e seu universo individual a ser explorado – abrir mão do outro é se apequenar.

Freud, ao tratar da fantasia, afirmava que nós com ela perpetuamos uma certa  sensação de liberdade à qual fomos obrigados a renunciar em função da realidade que nos foi apresentada e imposta.

Nascemos com enorme naturalidade sexual, com uma relação livre com o nosso corpo, contudo, não somos livres para sentir. Nunca fomos e talvez nunca seremos. Por isso temos essa nossa inata reprimida e, muito provavelmente, a fuga para a internet e seu universo pornográfico também é uma fuga à essa repressão.

Tenho a esperança, como estudioso da sexualidade humana, que não deixemos de explorar os nossos desejos, as nossas fantasias. Mas que tenhamos a coragem de compartilhá-la, aí, duvido que dois corpos excitados diante de uma tela, a troquem pelo encontro aquecido do render-se ao outro.

Que tenhamos um mundo de fantasias compartilhadas, do êxtase viciante pelo cheiro do outro, da alegria inconteste de uma gargalhada abafada por um beijo, do poder de cura de uma abraço de uma noite inteira.

Artur Vieira Filho

Artur Vieira Filho

Artur Vieira é Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade; Estudioso da Ciência da Felicidade e Psicologia Positiva; Sexólogo e Terapeuta, especialista em Relacionamentos e Sexualidade; Co-fundador do Centro de Estudos da Felicidade; Palestrante sobre Felicidade, sexualidade humana e relacionamentos; Graduado em Psicologia Positiva pelo Wholebeing Institute, certificação internacional, e Felicidade e Bem-Estar pela Universidade Positivo; possui GBA (Global Business Administration) em FELICIDADE - transformando pessoas e organizações pelo ISAE/FGV - Curitiba; Professor convidado da Universidade Estadual do Maranhão no programa Educação para o envelhecimento e advogado.

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