Mãe narcisista: o que é e como lidar
Descubra como lidar com uma mãe narcisista, entender os efeitos dessa relação e buscar caminhos de superação
Por Alice Duarte
Atalhos
Lidar com uma mãe difícil já é desafiador. Mas conviver com uma mãe narcisista, com traços acentuados ou com o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), pode gerar traumas profundos — difíceis de superar sem ajuda profissional.
Este artigo traz um caminho sobre como reconhecer os sinais de uma mãe narcisista, os efeitos sobre os filhos e os caminhos possíveis para lidar com essa relação.
O que é uma Mãe Narcisista?
Por muito tempo, o termo “narcisista” foi associado apenas à vaidade e egoísmo. Mas o narcisismo enquanto transtorno é algo mais profundo.
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), pessoas com esse padrão de personalidade têm comportamentos inflexíveis e marcantes.
Principais características da mãe narcisista:
- Grandiosidade: se consideram melhores, especiais e dignas de privilégio. São extremamente críticas e desqualificam os outros para se sentirem superiores. Não admitem seus erros ou fragilidades e não pedem desculpas.
- Falta de empatia: não consideram as necessidades e dores do outro e, portanto, não se importam em machucar as pessoas. São péssimas ouvintes e têm muita dificuldade em criar vínculos afetivos profundos.
- Manipulação: fazem de tudo para conseguir o que querem e estar no controle das relações: se fazem de vítima, mentem, distorcem fatos, culpam o outro por tudo que dá errado.
- Intolerância à crítica: podem ter explosões de raiva quando alguém as contraria, critica ou rejeita.
- Eu personagem: se comportam de forma abusiva dentro de casa e fora de casa podem ser muito sociáveis e generosas.
- Ciúmes e inveja agudos: invejam o sucesso, a felicidade ou qualquer outra coisa que elas não têm.
👉 Entenda também: Papel da mãe e o significado na Constelação Familiar
Os filhos de mãe narcisista
Crescer com uma mãe narcisista significa viver em um ambiente disfuncional, onde prevalecem a invalidação, a crítica constante e, muitas vezes, a agressão emocional, psicológica ou até física.
Impactos nos filhos:
- Sentimento de inadequação e culpa
- Baixa autoestima
- Desamparo aprendido
- Dificuldade em estabelecer limites e vínculos saudáveis
Diferença entre filhas e filhos:
- Filhos: frequentemente tratados como “filho dourado”. São usados como troféus e perdem a autonomia, sendo vistos como extensão da mãe.
- Filhas: costumam ser o bode expiatório. Sofrem inveja, competição e são responsabilizadas pelas emoções da mãe.
Como lidar com uma Mãe Narcisista
Em primeiro lugar, é necessário buscar uma distância que seja saudável para você. Alguns especialistas defendem o contato zero, quando existe um afastamento físico e definitivo, sem nenhuma espécie de comunicação.
Outros falam em afastamento físico com poucos momentos de contato — em datas comemorativas e reuniões familiares.
O que recomendo é que cada um encontre em seu interior, por meio dos sinais do seu próprio corpo, qual é a distância saudável para si.
Dica: tente encontrar uma distância que permita que você consiga enviar uma energia amorosa em direção à sua mãe.
Para aqueles que moram junto com a mãe narcisista ou por qualquer razão não podem se afastar fisicamente, o mais recomendável é estabelecer um distanciamento psicológico — conhecido como método da pedra cinza.
Ele consiste em manter uma postura reservada, evitando compartilhar seus pontos de vista, planos, sonhos, evitando qualquer tipo de reação às provocações e discussões desnecessárias.
Estas só levarão à perda de energia, já que narcisistas se alimentam de conflitos, é assim que obtém a sua atenção.
Além disso, durante o convívio em casa, evite o tratamento de silêncio, que também é uma forma de agressão, e busque sempre uma relação respeitosa e cordial.
Como superar as mães narcisistas
A seguir, veja um passo a passo com dicas de como superar a relação com uma mãe narcisista do ponto de vista sistêmico.
1. Dizer “sim” a essa mãe como ela é
O primeiro passo em direção à solução é dizer “sim” a essa mãe tal como ela é.
Isso não significa concordar com o seu comportamento abusivo e, sim, reconhecer que ela possui um transtorno de personalidade (rígida e imutável), admitindo que ela só pode ser assim e não tem como ser diferente.
Ver essa mãe como uma mulher comum, como ser humano imperfeito, vai te ajudar a abdicar das suas expectativas de que ela seja diferente do que é.
Também vai evitar que você continue voltando para esta relação com a expectativa irreal de receber amor, afeto e respeito.
Assim, entendendo que ela é espinho, você sabe que a natureza do espinho é ferir.
2. Entender o contexto familiar
O segundo passo é buscar o contexto familiar, ou seja, entender a história de vida da sua mãe e, principalmente, como foi seu relacionamento com seus pais na primeira infância.
Ali provavelmente se originou o Transtorno de Personalidade Narcisista, com um forte componente ambiental.
Sem isso, é muito difícil conseguir ressignificar sua relação com ela. O que vejo nos meus atendimentos de Constelação Sistêmica Familiar é que a causa dos transtornos e doenças mentais geralmente está na exclusão de homens em várias gerações do sistema familiar.
Outras possíveis causas são abuso, negligência e vínculo interrompido de forma precoce na infância com um dos progenitores — um trauma severo que geralmente se repete geração após geração.
3. Honrar e respeitar a mãe narcisista
O último, mais importante (e também o mais difícil) passo é tomar essa mãe como a certa para você e incluí-la no coração.
É nessa parte que as vítimas de mães narcisistas costumam se revoltar e rejeitar a Constelação Familiar. “Como vou honrar e amar quem me causou tanto dano?”
Aqui faço uma importante ressalva: tomar a mãe (honrá-la e respeitá-la) só é possível após ter processado toda a dor e sofrimento acumulados ao longo de anos dessa relação.
É preciso primeiro fortalecer o Eu Adulto para então acolher essa criança ou adolescente internos feridos. É nosso Eu Adulto que consegue tomar a mãe, não nossas partes feridas.
Por que é tão importante tomar a mãe narcisista como certa?
Incluindo a mãe no coração e na consciência, você evitará criar uma perigosa exclusão no seu sistema familiar, que só iria perpetuar esse sofrimento através da repetição de padrões na família.
Isto ocorre, pois um descendente inevitavelmente irá imitar o comportamento da pessoa excluída, até que alguém do sistema decida olhar isso com amor.
Ao final desse processo, você saberá que superou essa história quando finalmente conseguir agradecer a existência dela e a sua, que só foi possível através dessa mulher, ser humano imperfeito.
Reconhecer que você é fruto dessa árvore também será libertador, pois aí você poderá perceber que talvez carregue traços narcisistas.
Reconhecendo este fato, você também se perceberá imperfeito e passará a vê-la com mais humanidade e respeito, não com olhar julgador de quem é superior a ela.
Assim, após ter entendido o contexto, ressignificado, aceitado a tudo como foi e a todos como são, é preciso seguir em frente, conectando-se com a vida, o que sempre nos leva à expansão.
A melhor forma de honrar e respeitar sua mãe, no fim das contas, é fazendo algo de bom com a vida que ela lhe deu.
👉 Veja este Guia para Honrar a Mãe em todas as Dimensões
Como a Terapia Sistêmica pode ajudar
A Terapia Sistêmica é uma abordagem terapêutica reconhecida como prática integrativa pelo SUS. Ela permite visualizar e ressignificar dinâmicas inconscientes que atuam em nossas relações e padrões de vida.
Além disso, a Constelação Familiar também nos ajuda a encontrar uma nova maneira de olhar e lidar com as questões que nos incomodam, sendo capaz de transformar efetivamente nossas relações.
Assim, a técnica tem efeitos terapêuticos profundos para todos os membros de um sistema, seja ele familiar ou organizacional.
Alice Duarte é facilitadora de Constelação Sistêmica Familiar e Organizacional, com treinamentos internacionais com o alemães Bert e Sophie Hellinger, e os espanhóis Joan Garriga e Brigitte Champetier de Ribes. Desde 2015 facilita processos de autoconhecimento, cura emocional e solução de conflitos nos relacionamentos. É jornalista, mantém um site autoral com artigos em português e é criadora do programa online Por Uma Vida Sem Amarras. Vive em Curitiba, onde trabalha com grupos terapêuticos, workshops, cursos e atendimentos individuais (presenciais e online) de Constelação Familiar e Consultoria Sistêmica Empresarial. Aqui no Personare escreve sobre autoconhecimento e relações humanas.
Saiba mais sobre mim- Contato: contato@aliceduarte.com
- Site: http://www.aliceduarte.com