Papel da mãe: significado na visão sistêmica
A importância do papel da mãe e como nossa relação com ela na infância pode influenciar no sucesso dos relacionamentos, no trabalho e no cotidiano da nossa vida adulta
Atalhos
O papel da mãe é fundamental na nossa história. E este é um dos motivos pelos quais esta relação representa 80% dos problemas que levam as pessoas aos consultórios de psicologia.
Em uma visão sistêmica familiar, não buscamos apenas causas e efeitos, mas entendemos a complexidade dessa relação, que é central para o fluir da vida em várias áreas.
A visão sistêmica nos ajuda a compreender a importância dessa relação, trazendo mais leveza à vida ao “tomar a mãe no coração” e seguir em frente, com mais harmonia e equilíbrio.
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O papel da mãe: significado na visão sistêmica
“Toda relação começa com a mãe.”
Essa frase ilustra a imensa importância do papel da mãe em nossa vida. Muitos problemas surgem quando algo não ocorre na totalidade nesse primeiro relacionamento.
A importância do papel da mãe vem de sua função primordial: ela foi quem gerou e sustentou a vida que pulsa em você.
Se você respira agora, foi porque ela te alimentou e sustentou nos primeiros meses de vida. Ou seja, a vida chegou até você através dela, em toda sua grandeza.
Além disso, mães que puderam seguir com os cuidados depois do nascimento cumpriram um papel essencial, mesmo que, em alguns casos, não tenham podido dar continuidade aos cuidados posteriores. O lugar da mãe é de honra e respeito, independentemente das dificuldades.
A visão sistêmica entende que mãe (e pai) são pessoas, com qualidades e imperfeições. Não se trata de idealizar, mas de reconhecer o papel fundamental de cada um em sua capacidade de transmitir a vida.
Nesse sentido, tomar a mãe é concordar com esse fato e reverenciar a vida que veio através dela. Esse simples gesto pode trazer mais fluidez para diversas áreas da vida, incluindo o sucesso profissional e os relacionamentos.
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Nenhuma mãe é melhor do que a outra
Para a visão sistêmica familiar, a compreensão do papel da mãe é filosófica. Nada retira a grandeza da vida.
Muitas questões desafiadoras podem ter ocorrido desde o nascimento até sua chegada na vida adulta: fatos que ficaram no meio de sua relação com sua mãe.
Por mais difícil e doloroso que possa ter sido, a vida ainda é maior. É com ela pulsando que tudo é possível de ser ressignificado, reelaborado e reconstruído.
Com este olhar, a mãe é perfeita em sua função e nenhuma mãe é pior ou melhor que a outra. Todas transmitiram a vida e a isso nada pode se acrescentar ou subtrair.
👉 Descubra aqui como é a mãe de cada signo
Relação entre mães e filhas ou filhos
“A mulher só se torna mulher com a mãe. O homem só se torna homem com o pai.”
Esta máxima da Constelação Familiar costuma causar muitos questionamentos, contudo nela há um movimento natural do ser. Mais uma vez, a compreensão vai além das questões ideológicas.
É preciso nos voltarmos para o movimento essencial do ser. O feminino flui através do feminino, assim como o masculino fluirá através do masculino.
Psicologicamente, todos contemos o masculino e o feminino em nós. E buscar este equilíbrio é fundamental para bons relacionamentos.
Diferenças nas relações das filhas e dos filhos
A relação do papel da mãe e da filha costuma ser mais complexa. A mulher possui um papel mais desafiante, por isso ela se torna também tão especial e fundamental para o fluir da vida no mundo.
Por isso, a menina precisa fazer um movimento de retorno à mãe que os meninos não precisam.
Por volta dos 7 anos, as crianças vão em direção ao pai internamente. Este movimento é importante para a psique das crianças. Lembrando que o movimento é interno, na alma ou inconsciente, não necessariamente uma atitude física pois nem sempre isso é possível.
O pai tem um papel importante de conexão com a criança no mundo externo, social e profissional. Ele a leva para ver o mundo.
Mas a menina precisa retornar para a mãe após um tempo para seguir com o feminino fortalecido em suas raízes. O menino deve seguir com o pai.
Quando este movimento não ocorre, ou seja, a menina prefere ficar com o papai e o menino se recusa a ir com o pai ou volta para a mãe, ambos podem ficar frágeis em suas relações afetivas posteriormente.
Isso é conhecido como “filhinha do papai” e “filhinho da mamãe” na visão sistêmica.
- Filhinha do papai: Aquela mulher que busca no parceiro características semelhantes às do pai, podendo ter dificuldades em se relacionar de forma plena. Muitas vezes, pode sentir rivalidade com a mãe e insatisfação no trabalho ou na profissão.
- Filhinho da mamãe: O homem que busca em suas parceiras a figura materna, muitas vezes permanecendo emocionalmente dependente e incapaz de estabelecer uma relação estável. Esse comportamento pode ser visto em figuras como o “Don Juan”.
👉 Entenda mais: Honra teu pai e tua mãe e o significado na Constelação Familiar
Papel da mãe e lei da ordem
No caso destas dinâmicas descritas acima, uma das leis sistêmicas está sendo desobedecida, a lei da ordem ou hierarquia.
Segundo ela, precisamos ser pequenos diante de ambos os pais, respeitando a prioridade de chegada no sistema e reverenciando a vida que veio através deles.
Os filhinhos da mamãe e filhinhas do papai geralmente estão grandes diante de um deles. Assim, não há leveza e pode ser que em alguma área da vida algo não irá bem.
Os pais podem reforçar estas dinâmicas nos filhos, que quando criança não possuem muitas defesas. Os filhos ficam entre os pais com esta postura. Mas, ao se tornarem adultos, cabe a cada um voltar ao seu lugar.
Exercício para restaurar o equilíbrio
Se você se identifica com o papel de “filhinha do papai” ou “filhinho da mamãe”, um simples exercício pode ajudar.
- Olhe para o seu pai e lhe diz, piscando o olho: “Sou apenas a sua filha. Para outro papel, sou pequena demais”.
A mesma coisa faz o filhinho da mamãe com sua mãe.
- Olha para ela e lhe diga: “Sou apenas o seu filho. Para outro papel, sou pequeno demais”.
Curiosamente, isso é um alívio para todos, inclusive para os pais.
Vale ressaltar que não há nenhuma relação com orientações sexuais ou identidades de gênero. Aqui se trata do feminino e masculino em sua essência e existente em todos os seres humanos.
E mesmo que os pais estejam ausentes física ou emocionalmente da educação e crescimento das crianças, o movimento é o mesmo e se dá internamente.
O que ocorre é que talvez seja preciso uma ajuda profissional para direcionar estes casos, seja de uma psicoterapia sistêmica ou em uma constelação familiar.
Como descobrir a relação com sua mãe
Para saber se você tem problemas em tomar sua mãe, olhe a sua volta e perceba se sua vida está travada em algum processo. O primeiro lugar que visitamos é sempre a relação com o papel da mãe.
Em seguida, vamos ao pai e aos que estão excluídos do sistema familiar. Segundo a lei do pertencimento, estamos ligados a todos os nossos ancestrais por vínculos inconscientes e nada nem ninguém pode ser excluído sem que o sistema sofra algum efeito.
Assim, uma vida que não flui pode estar relacionada a algo fora de ordem ou excluído. No entanto, se a postura diante dos pais estiver em conformidade com a ordem, a clareza para encontrar soluções diante dos desafios será maior.
Papel da mãe e julgamentos
Se você tem muitas críticas e julgamentos contra sua mãe, isto pode se voltar contra você caso também opte pela maternidade.
Se você também exerce o papel da mãe e os conflitos com sua filha são grandes, provavelmente há algo na sua relação com sua própria mãe que precisa ser revisto.
Talvez queira ser uma mãe melhor e dar o que não teve. Parece uma intenção nobre e claro que é possível fazer diferente, mas não por ser melhor que a mãe, mas por ter mais recursos que ela mesma lhe propiciou.
A geração anterior teve seus próprios desafios e já traz um legado. Reconhecer isto não é justificativa para ações danosas, mas concordar com o passado para conseguir seguir em frente mais livre.
Papel da mãe nas relações amorosas
Problemas de confiança nas relações amorosas também podem ter origem em dificuldades na relação com a mãe.
Se, quando criança, sua mãe teve que se ausentar por algum motivo, como saúde, outra gravidez, ou mesmo morte, você pode ter registrado um pequeno trauma da separação e isso trazer consequências em suas relações afetivas e sociais.
O caminho é o mesmo: tomá-la no coração com tudo que foi do jeito que foi para seguir sua vida mais livre.
As mães (ou pais) adotivos exercem um papel importantíssimo e ao mesmo tempo bem delicado. O êxito na adoção e na relação entre esta mãe e seus filhos vem de acolher no coração a origem da criança, independentemente de qualquer ocorrido.
Mãe narcisista: uma categoria ou rótulo?
Recentemente, ficou mais comum escutarmos o termo mãe narcisista. O Transtorno de personalidade narcisista (TPN) é um transtorno de personalidade catalogado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV.
O fato de a mãe ter ganhado notoriedade por esse transtorno (você provavelmente não ouviu muito falar de pai narcisista) deve-se à sua importância e influência na maneira como conduzimos a vida adulta.
A questão é: saber o diagnóstico da mãe lhe ajuda a compreendê-la com amor ou reforça uma postura de vítima em você?
Claro que a postura da mãe (assim como a postura do pai) provoca efeitos e alguns bem desafiantes. Mas sendo um transtorno, trata-se de um processo mental no qual talvez não houve escolha consciente.
Não se trata apenas de um comportamento errado, mas de ser a única forma que aquela mulher sabia se comportar. Talvez houvesse motivos pregressos, lealdades inconscientes, ou mesmo questões biológicas e/ou genéticas.
O fato é que, embora o diagnóstico dela não possa ser alterado, você pode mudar a sua postura diante dele.
Talvez não seja fácil sem ajuda profissional para reconstruir e ressignificar, mas certamente é possível se você fizer uma escolha de seguir olhando para o futuro.
Como superar as dores causadas pelas mães
Costumo dizer que precisamos separar as instâncias. Dentro da mulher mora uma mãe e a relação que precisamos acertar é com esta. Afinal, a mulher traz sua bagagem que já existia antes de você. Suas dores e feridas estão todas lá.
Ela deu à luz em algum momento e, neste momento, você tem a vida através desta mãe e isso deve ser colocado em primeiro plano. Não precisa ficar em um ambiente de aversão, com a tal mãe narcisista, por exemplo, onde residem dores e mágoas.
Pode se afastar, se possível, mas no coração a mãe precisa ir com você. A mulher pode até ficar para trás, mas a mãe que te gerou e alimentou precisa ser honrada.
O que ocorre é que as culpas são carregadas. Se você acusa a mãe no coração, automaticamente age contra a lei da ordem e pode causar processos de autossabotagem como expiação.
As pessoas se vingam inconscientemente da mãe sendo infelizes, assim podem justificar seu fracasso e continuar acusando a mãe. Não traz bons efeitos para ninguém e quem mais perde é você mesma.
O passado não define você
O passado não precisa definir quem você é. Você pode tirar a força que precisa de todos os desafios que vivenciou ou olhar para o que lhe faltou no processo.
Se você acreditou que precisava carregar as dores da mãe por amor a ela ou mesmo por elas terem sido depositadas em você, está na hora de devolver a quem de direito.
Reconhecer que diante dela é pequena e que não pode carregar nada por ela. Este é um movimento que é feito no coração, sem acusações, apenas concordância do que foi para seguir livre.
Dependendo do tamanho do dano ou dor causadas, o processo deve ser feito em um processo terapêutico por um profissional capacitado que irá acolher suas dores e te ajudar a ressignificar.
Uma constelação familiar com um profissional de sua confiança também pode trazer a luz as questões envolvidas e lhe ajudar a liberar o que te aprisiona.
É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.
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