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Yoga para o dia-a-dia: verdade absoluta

Ter clareza quanto à nossa identidade pode nos ajudar a viver melhor

Atualizado em

“A verdade é uma, os sábios chamam-na de diversos nomes”. Esta é uma afirmação proveniente dos Vedas, as mais antigas escrituras da humanidade. Os Vedas, inicialmente passados de geração em geração de forma oral, têm a sua origem na Índia, hoje em dia, tão procurada pelos amantes do Yoga e da espiritualidade em geral. Em relação à frase, propriamente dita, ela tem sido a base para muitas interpretações e especulações. Mas o que é a verdade segundo a tradição védica e como esse entendimento pode influenciar a minha vida?

Desde tempos imemoriais que existe uma interrogação que ocupa a mente do ser humano: “Quem sou eu?”. Por isso, cada um de nós procura, à sua maneira, uma resposta clara a essa pergunta que satisfaça a necessidade fundamental de termos uma clareza quanto à nossa identidade enquanto seres num vasto universo, com deveres e responsabilidades próprias, papeis, metas e sonhos por atingir. Precisamos de um ponto de partida seguro para nos aventurarmos nos mares da vida sem medo e com muita esperança.

Ser humano completo

Assim, da mesma forma em que chegou o dia que a humanidade se interrogou sobre a sua natureza,também nós, na nossa intimidade, em dada altura, nos questionamos e desejamos uma resposta direta. Ao longo de milhares de anos foram surgindo respostas. É assim o processo de amadurecimento, de crescimento, natural e necessário. Os Vedas têm a sua resposta , que é, precisamente, a descoberta da identidade básica do ser humano, do “Eu”, como sendo completo, pleno e imortal (que está além do corpo e da mente – sujeitos ao nascimento, mudança, transformação e morte -o tema central de todo este legado, deste corpo de conhecimento). A visão deste “Eu” dos Vedas é um conhecimento atual, interessante e prático. O ser humano que recebe este conhecimento de si mesmo como consciência e existência ilimitada desprende-se da noção equivocada de si como apenas um corpo ou uma personalidade, um conjunto de algumas virtudes e muitos defeitos. Liberta-se de imediato da constante sensação de insuficiência, de que falta alguma coisa para atingir a perfeição, já que, de acordo os Vedas, a essência do ser humano é não separada do Absoluto – que em si mesmo é perfeita, pura, imaculada.

Do ponto de vista prático, esta compreensão melhora a relação do indivíduo consigo mesmo e com os outros seres, pois serve como um “amortecedor”, como o dos automóveis, que ampara dos buracos na estrada. No nosso caso, prepara-nos para os embates vindos da dinâmica da vida, dos problemas e conflitos advindos das escolhas e das interpretações individuais das situações cotidianas. Ao me enxergar, em essência, como algo maior, num enquadramento não separado do todo, sei que nada está fora de ordem e que tudo tem uma razão para acontecer. O propósito da existência passa a ser então o aprendizado interior, silencioso, o amadurecimento e crescimento espiritual. A vida de Yogi, de quem pratica Yoga, não é apenas vivida na sala de aula, nem só por aqueles que vão às aulas num centro ou numa escola. Grandes Yogis da humanidade nunca pisaram o espaço de uma escola desse tipo. Muitos deles até convivem conosco no dia-a-dia. São aqueles que, para além desse entendimento, estão disponíveis para os outros, que sentem as dores dos outros e, conjuntamente, vivem as suas alegrias. A vida é dar, dar, dar e continuar a dar: amor, rendição, apoio, carinho, ajuda, compreensão, e tudo o que de melhor habita em nosso coração.

Olhe ao redor

No seu dia de hoje, olhe para o lado e veja os seus colegas, amigos, familiares e desconhecidos como são: Yogis, tentando dar o melhor de si próprios, que lhe ajudam acrescer com as situações que provocam ou que se inserem. Você pode conviver com grande almas e não ter reparado. Você pode ser uma delas e nem se deu conta. Pode ser não… é!

Nas palavras de Carl-A. Keller: “Só depois de se ter esvaziado do seu “eu” é que o discípulo estará em condições de se deixar encher pela verdade”.

Gustavo Cunha

Gustavo Cunha

Ensina Yoga e estuda Sânscrito e Vedanta. Dirige um centro de Yoga em Portugal e leciona no Centro de Yoga Vaidika (Maia) e no Solverde (Granja). Ministra palestras regularmente e faz traduções de textos milenares e manuais de Yoga para Português.

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